quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Prendas de Natal
----
Sinto Muito, de Nuno Lobo Antunes, é uma recolha de várias crónicas escritas por este "médico-do-cancro-no-sistema-nervoso-das-crianças", que relatam alguns episódios felizes e infelizes do exercício da sua profissão. Uma obra comovente, sem roçar na pieguice, que fala de dor, de perda e de reconciliação na dor da perda. Já comecei a ler (não resisti a mandar esperar na mesa de cabeceira O Monte dos Vendavais, que ia já na terceira leitura) e estou fascinada. Acho que já não terei páginas suficientes para devorar no avião, na próxima quinta-feira.Aqui."
"Acabei de ler e estou francamente encantada, emocionada e muito mais rica"
Nuno Lobo Antunes é médico neuro oncologista pediátrico, que passou muito tempo a exercer a sua profissão nos Estados Unidos e que agora, em Portugal, se dedica, sempre no campo da neurologia às doenças com deficit de atenção (autismo, síndrome de Aspergen…). Tive já o privilégio de assistir a uma palestra sua neste domínio.
O livro é uma compilação de pequenos artigos que o autor escreveu para a Lux, com outros, também, inéditos, que mais não são do que memórias da sua prática enquanto médico.
Contudo o que nos transmitem estes pedaços de confissões, são a dimensão emocional e humana do médico perante a sua impotência num caso de perda ou de um diagnóstico condenatório. É a sua relação com os doentes com os seus familiares e o seu grau de envolvência com a dor alheia, que é também a sua, que impressiona nestas pequenas crónicas.
De escrita muito simples mas muito cuidada, com momentos de verdadeira poesia, o autor vai juntando um pendor um pouco humorístico que nos permite abordar a gravidade do que é contado de uma forma suficientemente desdramatizada que nos permite continuar, e continuar, e continuar, sem ter vontade de parar nunca.
Para mim, considero um livro imperdível sem contudo pretender dizer que seja um livro literariamente espantoso. É bom." Aqui.
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
"Sinto Muito" de Nuno Lobo Antunes
No seu primeiro livro, "Sinto Muito", o médico neuro oncologista pediátrico Nuno Lobo Antunes reúne histórias de dor e coragem. Relatos da sua experiência como médico que agora partilha com o público.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
"Pais acreditam mais que os filhos no superpoder do médico para curar"
Nuno Lobo Antunes. Não é um nome habitual nas capas dos livros, mas desde que publicou 'Sinto Muito' que está sempre nos primeiros cinco lugares das tabelas de vendas nacionais. Na semana passada voltou ao primeiro lugar, porque o testemunho de muitos milhares de leitores leva a que outros queiram partilhar essa sinceridade. Aviso: este é um livro que faz chorar
Um médico tem de ser um pouco frio para tratar de crianças em fase terminal?
Não acho que tenha de ser frio. Terá de criar a distância necessária para que as emoções não interfiram com decisões de inteligência. Como não pode haver decisões ditadas pela emoção, é necessário que na relação médico-doente transpareça a nossa personalidade.
Os doentes que trata são muito jovens. É mais difícil lidar com a morte nessa idade?
Essa é a razão de ter escolhido este título. É um Sinto Muito ambíguo, de quem lamenta não ter sido capaz de fazer melhor. Qualquer oncologista tem de ter uma armadura que lhe permita tomar as decisões tecnicamente correctas. Isso implica distanciamento, porque se há momentos em que não se está perante uma decisão técnica, aí vem ao de cima tudo o que é a pessoa, as suas emoções, as suas memórias, de que forma aquela criança, jovem ou família tocam o médico, de que forma o lembram a sua própria infância ou o seu próprio filho... E o pediatra tem de voltar muitas vezes ao mundo da sua própria infância, sem ser infantil, e esse retorno à infância permite diálogos e interacções a um outro nível.
A sua vivência de infância e adolescência facilitou a relação com estas crianças?
Não torna mais fácil decidir se deve ser dado o remédio A, B, ou C, mas torna seguramente mais fácil criar empatia com a criança e pôr- -me na pele dela. E os miúdos sentem isso, percebem quando a relação do adulto é fingida ou quando não é. Sentem quando há uma afectividade que lhes é próxima e não é de plástico.
Muitos dos casos que conta no livro estão numa fase sem retorno. É por isso que diz: "O cancro do pulmão não faz cerimónia."
Nem todos os casos que descrevo são oncológicos, e estes, que são a maioria, foram vividos em Nova Iorque, num hospital que era o fim da linha, o Memorial Sloan-Kettering Cancer Center. É um hospital de cancro, muitas vezes eleito o melhor do mundo e procurado pelas pessoas sem esperança. É natural que em muitos casos o que se procura é dar um pouco mais de tempo, sabendo que o fim é inevitável. Os casos que escolhi foram os que me tocaram mais profundamente, e é natural que os que morreram me tenham tocado mais.
É mais fácil tratar estes pacientes de dia ou de noite?
A noite para o médico que está de urgência é seguramente diferente do dia. Na noite está-se mais sozinho, faz-se muita clínica pelo telefone e sem ver as pessoas. À noite estamos mais cansados e vulneráveis e com a afectividade mais à flor da pele. À noite, espera-se muitas vezes o aparecimento da cavalaria 7, ou seja, quem nos venha render e libertar. É um ambiente diferente, onde os fantasmas, o medo da morte e a solidão do doente emergem mais.
Quem mais espera que os médicos tenham superpoderes para curar. As crianças ou os pais?
Eu diria que os pais, porque os miúdos não têm a ideia de morte, e muitos não sabem até determinada idade exactamente do que é que isso se trata. Por outro lado, a vida deles é o que é, e não conhecem outra, sobretudo quando a doença se manifesta numa altura precoce e a vida não apresenta alternativas. O que esperam verdadeiramente é que o médico não lhes inflija muita dor! Portanto, a esperança de alguém que pode ter o poder de curar ou de salvar é mais por parte dos pais que das crianças. São os pais que querem acreditar mais no superpoder do médico para lhe curar o filho.
A maior parte das histórias passou-se nos anos 90. Desde então as coisas mudaram muito?
A natureza das pessoas não mudou nada.
Só houve evolução a nível científico?
Não na cura dos cancros no sistema nervoso. Aí estamos praticamente onde estávamos, não houve avanços extremamente significativos para os tumores malignos e há muito tempo que não há diferenças significativas no tratamento. Do ponto de vista cirúrgico, sim, a técnica melhorou imenso, tal como a precisão da radiologia, mas em termos de sobrevida, sobretudo para os tumores malignos no sistema nervoso, a diferença não é muito grande do que era há 50 anos.
E porquê?
Porque os tumores no sistema nervoso são resistentes à quimioterapia, o interior do nosso cérebro está protegido e tem uma barreira entre o sangue, os vasos e o cérebro. Essa barreira, que naturalmente impede a toxicidade do sistema nervoso através da ingestão de produtos, também é uma dificuldade à penetração dos agentes quimioterapêuticos. E tem ainda a ver com a natureza da própria célula nervosa, razões biológicas mas não de menos interesse neste tipo de tumores.
As pessoas têm a crença de que o cancro vai ter cura muito rapidamente. Os médicos acreditam nisso?
Têm de acreditar. Eu acredito e explico porquê: quando trabalhava no Memorial, tínhamos uma vez por mês uma reunião com o director do serviço, e ele acabava a reunião a dizer: "E agora vão trabalhar e encontrar a cura para o cancro." E nenhum de nós se ria ou sorria. Todos achávamos que essa era a nossa obrigação. Está sempre no horizonte de qualquer oncologista que trabalhe num hospital onde se faça investigação matar a besta e acreditar que pode estar perto.
As famílias americanas são diferentes das portuguesas no acompanhamento?
Claramente e não só no cancro, mas em todas as outras patologias. Nos países latinos e de pequena dimensão há um sentimento de família alargada, onde os avós estão muito presentes, os tios e até os primos, enquanto nos EUA isso não acontece. A família é pai, mãe e filho, irmãos, se os houver. Deve-se à dimensão do país, que leva a que as pessoas se afastem, a procurarem universidades que são distantes do sítio onde viveram e onde cresceram e à procura constante do melhor emprego e oportunidades, e isso leva a que as pessoas tenham uma enorme mobilidade. Os europeus percebem muito mal os americanos e a sua forma de viver porque as coisas não se passam assim.
Nunca consegue deixar de ser português e até escreve: "O Harlem é a nossa Alfama!"
É inevitável. Estou impregnado do leite que bebemos em pequenos, da escola primária onde aprendemos as primeiras letras... Para transmitir o que sinto tenho de usar referências compreensíveis aos que me lêem.
Quando se lê o seu nome lembramo-nos logo do escritor da família, o António Lobo Antunes!
Eu acho que é preciso ser um pouco louco para, sendo irmão do António, escrever um livro. Mas não é um livro de ficção! Provavelmente é inevitável, mas é uma comparação completamente desinteressante.
Isso pesou enquanto escrevia?
Eu senti o peso de escrever algo que não prestasse.
Diz que a sua mãe só lhe pedia nota positiva nas notas escolares. Não é partilhar demasiado?
Se calhar a minha mãe acha que sim, eu acho que não.
O prefácio é de António Damásio, que vive nos EUA. Portugal pode ajudar na descoberta de uma cura?
Evidentemente que há imensa coisa que se pode fazer em Portugal, mas até agora a contribuição tem sido relativamente marginal. Parece-me haver nos anos recentes um investimento enorme na investigação básica e na criação de institutos para tal. Um deles foi incentivado pelo meu irmão João e dá provas fantásticas. Sempre achei que o sermos um país pequeno não nos impede de fazer coisas muito grandes e de criar condições para que as nossas elites técnicas e científicas trabalhem em Portugal e com certeza que faremos contribuições de grande peso.
Porque foi para os EUA?
As pessoas não partem por prazer, mas porque sentem necessidade. Eu era um solista à procura de orquestra, e nós sabemos onde estão as grandes orquestras. Mas, como sou optimista, vejo que para a criação de um novo espírito em Portugal é preciso ter esperança.
Acha que o actual Governo vai actuar no sentido de que a ciência também seja uma profissão em Portugal?
A pergunta que me faz é política e põe-me numa posição em que devo definir algumas coordenadas das minhas convicções políticas. O que me parece, mesmo se quisesse pôr-me como um observador independente, é que o primeiro-ministro tem falado muito no progresso tecnológico e na aposta no avanço tecnológico como solução para alguns dos atrasos e das deficiências do País. E não tenho razões para pensar que não seja genuíno.
Qual é o seu quadrante político?
Estou ligado ao Movimento Esperança Portugal, mas até aqui votava PS.
JOÃO CÉU E SILVA Aqui.
Sinto Muito no Casino Figueira
| ||
O livro “Sinto Muito” de Nuno Lobo Antunes será apresentado no Casino Figueira no próximo dia 18 de Dezembro às 21h30. Nuno Lobo Antunes é um homem da medicina, mas também um apaixonado pela escrita. Com uma vida cheia de experiências únicas, o neuropediatra reuniu no livro “Sinto Muito” testemunhos de momentos que fizeram dele a pessoa que é hoje. “Sinto Muito” é um livro de confissões/memórias de um neuro oncologista pediátrico e hoje neurologista sobre doenças de deficit de atenção. Uma reflexão sentida sobre aquilo porque muitas pessoas têm que passar ao longo da vida ou já no fim dela. O livro fala sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor. Entristece o coração, mas recompensa-o grandemente, tornando-o mais leve e melhor. Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o seu coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. | ||
| ||
|
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Nuno Lobo Antunes - El Corte Inglés Lisboa
Domingo, dia 14 de Dezembro, às 16 horas, na Livraria, Piso 0 do El Corte Inglés Lisboa
Nuno Lobo Antunes, neuropediatra, reuniu no livro "Sinto Muito" testemunhos de momentos que fizeram dele a pessoa que é hoje. Uma compilação de histórias da vida real que falam do melhor que a Humanidade tem para oferecer: a coragem e o amor.
Não perca a oportunidade de conhecer o autor pessoalmente e de obter o seu livro autografado.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Eles, Elas e o Amor...
ELES, ELAS e o amor...
José Manuel Arrobas e Maria dos Anjos Fernandes, psicoterapeutas, e com vários anos de prática clínica com casais, pretendem, com este livro ajudar as pessoas a conhecerem-se a si próprias e a entenderem melhor o outro, de forma a conseguirem uma relação harmoniosa e equilibrada.
Recorrendo a exemplos reais que lhe passam no consultório, procuram identificar os princípios psicológicos que podem desencadear situações problemáticas associadas ao Amor e à Relação, assim como as reacções e respostas mais adequadas para superar as dificuldades do quotidiano.
Deve-se fazer tudo para que uma relação não termine, mas se ela só traz sofrimento, deve-se, também, saber terminá-la e acima de tudo saber recomeçar uma nova vida. Como a actriz Ava Gardner dizia: “Acho que os meus casamentos falharam porque amei muito, mas não sabiamente.”
“Sinto Muito” de Nuno Lobo Antunes no Casino Figueira
Data: 2008-12-18
O livro fala sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor. Entristece o coração, mas recompensa-o grandemente, tornando-o mais leve e melhor.
Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o seu coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. E, na verdade, a alma fala. Aqui.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Nuno Lobo Antunes - Fátima - SIC
sábado, 6 de dezembro de 2008
Agenda Cultural FNAC
06.12 - SAB - 18H00 - NorteShopping
«Há no médico o desejo de ser santo, de ser maior. Mas na sua memória transporta, como um fardo, olhares, sons, cheiros e tudo o que o lembra de ser menor e imperfeito.
Este é um livro de confissões. Uma peregrinação interior em que a bailarina torce o pé, o saltador derruba a barra, o arquitecto se senta debaixo da abóbada, e no fim, ela desaba.
O médico e o seu doente são um só, face dupla da mesma moeda. O médico provoca o Criador, não lhe vai na finta, evita o engodo. Mas no cais despede-se, e pede perdão por não ter sido parceiro para tal desafio.»
Sinto Muito é sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor. Entristece o coração, mas recompensa-o grandemente, tornando-o mais leve e melhor. Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o seu coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. E, na verdade, a alma fala. Aqui.
SINTO MUITO - Fnac NorteShopping
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Gostos, na Geração de 60.
"Posso comentar o nosso próprio blog? Não, não é para dizer que vamos ter um dos meses menos produtivos de sempre (também eu, por razões várias, contribuí para a queda a pique). Pelo contrário, é só para dizer que, sem precisar de concordar com tudo, gostei do que o Pedro Norton escreveu aqui e, por causa da inteligência fina e cordata, recomendo a leitura do comentário que o Vasco M. Grilo escreveu aqui. Por fim, gostei muito de ver nas livrarias um livro de Nuno Lobo Antunes, ex-blogger da Geração. Folheei, interessou-me e comprei logo. Leitura agendada para breve." Aqui.
Comentários:
Indy - Tive a sorte de apanhar a entrevista que Nuno Lobo Antunes deu na TV há algumas semanas atrás.
Inteligente, sensível, HUMANO.
Gostei de o ouvir, muito.
A sua "fuga" para os USA foi uma mais valia para todos nós, aquando do seu regresso, é claro ;-)
(Também eu não resisti ao apelo da leitura de "Sinto Muito")
ASL - Esse livro é fantástico!
Aborda a experiência médica de uma vertente menos conhecida: a vertente humana. Porque estamos a falar de pessoas, o médico naturalmente que não é indiferente ao sofrimento do seu doente e, consequentemente, da sua família.
É isto que o Dr. Nuno Lobo Antunes vai mostrando contando várias pequenas histórias, e numa escrita simples e muito bem conseguida.
É um livro que aconselho vivamente (e não sou suspeito, porque não estou minimamente ligado à área da medicina)!
domingo, 30 de novembro de 2008
Sinto Muito no Segredo dos Livros
É um livro de confissões/memórias de um neuro oncologista pediátrico e hoje neurologista sobre doenças de deficit de atenção. Uma reflexão sentida sobre aquilo porque muitas pessoas têm que passar ao longo da vida ou já no fim dela.
"Sinto Muito é sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor. Entristece o coração, mas recompensa-o grandemente, tornando-o mais leve e melhor. Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o seu coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. E, na verdade, a alma fala."Aqui.
Críticas de imprensa:«Os 44 textos reunidos em Sinto Muito formam um bloco coeso, tendo por dio condutor as mil histórias da vida de um médico que escolheu a pediatria “porque gostava do aristocrata dos pediatras do [seu] tempo” (a neurologia já era tradição na família). Escrito no tom compassivo de quem acredita nas grandes palavras, “fé, amor, vergonha, coragem”, não admira que estas memórias de Nuno Lobo Antunes cativem tantos leitores.» Eduardo Pitta, Público
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Nuno Lobo Antunes - Praça da Alegria
Emitido diariamente a partir dos estúdios do Porto, a Praça da Alegria é uma produção da RTP.
Entre as 10h e as 13h.
domingo, 23 de novembro de 2008
"a vida é tempo entre parêntesis"
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
"Toda a devastaçao da perda"
Damásio sublinha que o livro «é sobre o sofrimento em geral, ou se quisermos, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor.» Como decorre da leitura dos textos coligidos, a expressão “sinto muito” não é o equivalente de “lastimo” (ou lamento). O sentido de perda que o título enfatiza é parte da narrativa: «Os velhos morrem a horas impróprias. Maçavam, mesmo mortos, e insistiam em escolher o meu turno de vigia. Depois aquela obrigação de telefonar para casa, anunciando à viúva, que de ora em diante estaria como eu, sentindo o peso da noite porque estamos sozinhos. [...] Uma velha despertada do silêncio da casa, mãos enrugadas tacteando o telefone, e do outro lado uma voz com sotaque, de um médico vindo de um país distante, onde os velhos ainda têm família. Sinto muito — dizia — sinto muito. E na verdade sentia. Sentia o desespero da sua solidão, amputada do amor de toda a vida e para sempre jovem, que nos sonhos nunca somos velhos.»
Nos primeiros anos, depois do internato policlínico em hospitais de Lisboa, Nuno Lobo Antunes fez o tirocínio da província, experiência que o levou a Manteigas, onde tomou a decisão de partir para Nova Iorque. O Columbia-Presbyterian Medical Center é a principal fonte dos relatos, sendo motivo de interesse a descrição pormenorizada do quotidiano hospitalar numa metrópole como Nova Iorque, com a sua mistura de raças, culturas e religiões. É capaz de não ser muito diferente do que se passa noutras cidades, porque a realidade multicultural é hoje uma evidência (talvez mesmo em Nelas), embora o factor de escala continue a ser determinante. O que é novo, em Portugal, é a capacidade de pôr em letra de forma este tipo de experiências, num registo acessível a toda a gente, sem nunca beliscar o rigor da informação e a exigência do discurso. Se a tudo isto acrescentarmos uma óbvia vocação de contador de histórias, não isentas de humor quando é o caso, temos a receita que faz de Sinto Muito uma obra singular.
Não poucas vezes, o autor surpreende-nos com sínteses exemplares: «A dor comia bocadinhos de nós. Partes de mim deixavam de existir.» Chama-se a isto limpar o osso de toda a enxúndia, que o mesmo é dizer da retórica auto-complacente. Noutras ocasiões, que são aliás frequentes, certo sentido de mise en scène empresta aos textos uma forte dimensão plástica, como aquele que descreve um atravessamento nocturno da ponte George Washington, o carro destruído entrevisto de relance, «o momento em que a luz se apaga, os olhos se fecham, o pêndulo pára», ele a caminho do hospital, desconhecendo, como não podia deixar de ser, quem ali morria contra o separador. Era afinal (soube-o mais tarde) a enfermeira sua assistente, «sorriso irlandês que tudo vence, olhos azuis de música celta, cabelos ruivos de outra raça», presumivelmente a Mary de O Sétimo Dia.
Sempre que necessário, a realidade revela-se com brutalidade: crianças que nascem com o cérebro destruído porque «as carótidas, interrompidas por coágulo, deixaram de fornecer o oxigénio necessário à vida das células», músculos e membros atrofiados e, mesmo assim, sobrevivendo até aos 15 anos. A história de La niña, filha de imigrantes colômbianos, é das mais pungentes do livro. Oscilando entre um mínimo de quatro e um máximo de seis páginas cada, os 44 textos reunidos em Sinto Muito formam um bloco coeso, tendo por fio condutor as mil histórias da vida de um médico que escolheu a pediatria «porque gostava do ar aristocrata dos pediatras do [seu] tempo» (a neurologia já era tradição na família). Escrito no tom compassivo de quem acredita nas grandes palavras, «fé, amor, vergonha, coragem», não admira que estas memórias de Nuno Lobo Antunes cativem tantos leitores."
"Entre a realidade, umas vezes brutal, outras vezes compassiva, a lição dos gregos: a catarse pela escrita."
Crítica Literária: * * * *
EDUARDO PITTA - Jornal Publico - ípsilon - 21 Novembro 2008
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Lançamento do livro - ELES ELAS E O AMOR
"Falando da dor e do sofrimento, mas um hino à vida."
Falando da dor e do sofrimento, mas um hino à vida.
Não houve uma página em que não chorasse, outras houve que ri, pelo meio…
Livro duro, não tenho estofo nem bagagem para me meter nestas leituras...livro lindo, potentíssimo.... god...
Mais humana estou, mas também sem sono fiquei…
”A vida é tempo entre parêntesis: alma a nu, sentimento despido de pudor, o amor como razão de ser e de viver”.
Passagens
A certeza que fica é que para a vida valer a pena é necessário amar e ser amado, e ter muito cuidado com o cristal de que os outros são feitos.
“Com clareza se exprime o que se pensa bem” (Pascal)
Muitas vezes no poder das circunstâncias, de um encontro, no traçado da vida, uma palavra de incentivo, ou uma atirada sem cuidado, marcam uma existência. Definitivamente.
O meu irmão António disse-me, um dia, que nunca iria viver para o estrangeiro por não ser capaz de segredar ao ouvido feminino…Aurora…és a minha madrugada!
Cada página que escrevo vai numa garrafa de náufrago lançada da praia. Carta solitária suplicando resgate. Uma vida à deriva. A outra praia qualquer chegará a mensagem.
É preciso afirmar aquilo em que se acredita. É preciso usar as grandes palavras: fé, amor, vergonha, coragem. É preciso dizer que a paixão, mais que a razão, redime e nos torna santos. Aqui.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Nuno Lobo Antunes - Um homem que sente
"O Livro de Nuno Lobo Antunes lê-se num ápice. E tem capítulos muito bons. São episódios da vida de um médico que, como afirma no título, "sente muito".
Conheço o Nuno desde a faculdade. Admiro nele a capacidade de trabalho e de mudança. E também lhe reconheço coragem de intervenção, como no caso Esmeralda, em que não teve pejo de desmontar alguma da histeria "pró-sargento", mesmo desafiando "altas individualidades". Diz-se que o Nuno é "mesmo Lobo Antunes", ou seja, que compartilha alguns tiques que atravessam toda a família. Talvez - já lho disse pessoalmente. Mas a postura dele, em termos de cidadania, tem sido muito boa.
Lembro-me de, há anos, num Congresso no Coliseu, ter dito "preto no branco", que há um conflito de interesses entre a mulher-trabalhadora e a mãe. E que ignorar isso, camuflando, seria uma forma de perpetuar o problema sem saltar para uma solução. Inteiramente de acordo, meu Caro Amigo, uma das poucas pessoas que teve a atenção de me telefonar, pessoalmente, em 2002, a expressar o apoio na luta pela vacinação universal contra a meningite C.
Fica aqui o apontamento, e a sugestão para lerem este livro." Aqui.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
"Um Livro"
É um livro de confissões/memórias de um neuro oncologista pediátrico e hoje neurologista sobre doenças de deficit de atenção. Uma reflexão sentida sobre aquilo porque muitas pessoas têm que passar ao longo da vida ou já no fim dela.Sinto Muito é sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor. Entristece o coração, mas recompensa-o grandemente, tornando-o mais leve e melhor.Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o seu coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. E, na verdade, a alma fala.Aqui.
domingo, 16 de novembro de 2008
A sensibilidade de Jorge Gabriel...
"Vivi dois momentos de profunda mágoa hoje e, simultaneamente, de esperança.
Assisti à nocturna entrevista da Judite de Sousa ao neurologista Nuno Lobo Antunes sobre a sua experiência com crianças, doentes oncológicas. Emocionei-me com a dureza da verdade. Da inevitabilidade da morte prematura e, do desabafo do médico, sobre a frieza das sentenças terminais para tão injustas afectadas. Estarreci com as descrições cruas da incapacidade para assegurar uma cura.
Há sempre uma razão para viver. Há sempre uma razão para desistir e respeitar a decisão. Mesmo quando olhamos para um pueril vislumbre farto de combater, carregado de dor e mais preocupado com os que rodeia do que com sim mesmo.
Os cuidados paliativos são imperiosos e merecedores de investimento, e - dentro em breve visitarei uma das melhores unidades existentes em Portugal - deles falarei com mais destaque. Aconselho-vos vivamente o livro, testemunho, "Sinto Muito", de Nuno Lobo Antunes.
Cheguei a casa incomodado. Vim do funeral do pai de jogador que treinei no Arouca. O Rui Pedro entregou à sua fé o destino do pai no cemitério de Grijó, morto por uma quezília de estacionamento. As justificações para tão descontrolada decisão do homicida descolam do nosso entendimento. Amachuca-se a vida de um mecânico, em troca de um prazer de carácter, de uma resolução à força, ao peso de um chumbo de espingarda.
Afinal o que vale a vida? Quanto suportamos a dor? E quem a rouba terá a noção da sua precariedade de espirito?
A esperança, à hora tardia em que vos deixo este desabafo, é que não cheguemos ao desespero deste pistoleiro, fazedor de justiça pelas próprias mãos, e que sejamos capazes de continuar a perdoar. Mesmo àqueles que nos roubam quem Deus mais ama." Aqui
sábado, 15 de novembro de 2008
No Blogue da Ana F.
O Blogue chama-se Livros em 2º mão, e a sua autora a Ana F. já leu SINTO MUITO, e descreve-o ""Sinto muito" é sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor. Entristece o coração, mas recompensa-o grandemente, tornando-o mais leve e melhor. Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o seu coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. E, na verdade, a alma fala." Aqui.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Jornal da Madeira
ARTES A NÃO PERDER - Sinto Muito Nuno Lobo Antunes
"Sinto muito" é sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor. Entristece o coração, mas recompensa-o grandemente, tornando-o mais leve e melhor. Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o seu coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. E, na verdade, a alma fala. Há no médico o desejo de ser santo, de ser maior. Mas na sua memória transporta, como um fardo, olhares, sons, cheiros e tudo o que o lembra de ser menor e imperfeito. Este é um livro de confissões. Uma peregrinação interior em que a bailarina torce o pé, o saltador derruba a barra, o arquitecto se senta debaixo da abóbada, e no fim, ela desaba." Aqui
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Nuno Lobo Antunes me confesso
"À medida que se folheiam
as páginas de Sinto Muito, mergulhando nas memórias de neuro-oncologista pediátrico,
ouve-se nitidamente o bater de coração de um homem.
Para lá da dor e do sentimento de impotência, Nuno Lobo Antunes, durante quase uma década soldado nas trincheiras da luta contra os tumores
cerebrais em meninos com uma vida por cumprir, estreia-se nos livros com um testemunho de genuinidade e esperança. “Perdíamos muitas
crianças, é certo,mas sentia- me privilegiado pelo trabalho que fazia”, escreve na introdução de Sinto Muito, em que “exorciza” derrotas com uma homenagem à coragem, aos pais, ao Homem, que depois do limite se reergue mais forte para enfrentar os seus dramas. Mas estas são também páginas de um diário pessoal, confessionário de
quem não tem vergonha de falar do que sente." Aqui
Entrevista a Nuno Lobo Antunes
Quanto à generosidade, não sei se estou de acordo. Tinha uma necessidade real de aliviar a carga de algumas destas histórias. Como digo aí, no fim fiquei mais leve e livre. Depois a noção de, quando se lida com pessoas nestes patamares de sofrimento, reconhecer que elas são capazes de se tornar heróis e santos. Estamos numa sociedade em que já não há heróis, os que existem são figuras de ficção. Já há poucos heróis de carne e osso. As pessoas vulgares, com quem nos cruzamos nos passeios, quando em níveis de exigência difíceis, são capazes de revelar capacidades extraordinárias. Se contribui com uma gota de água no reacreditar nas pessoas, então será verdade esse sentido pedagógico.
Há uma mistura de duas coisas: uma necessidade de pôr cá fora dores armazenadas durante muito tempo e a noção de que são histórias que valem a pena serem conhecidas.
Há a ideia do médico ter mecanismos de defesa para conseguir lidar com o limite. Mas homem e médico são um só. Onde, afinal, se guarda a dor?
Cada um responderá à sua maneira. Os religiosos encontram alívio, explicação, na fé. Quem não o for, terá outras respostas. O livro foi uma resposta à minha própria dor. Transformei-a nisto. Foi uma saída. O médico tem, claramente, de manter a distância afectiva na altura das decisões, da avaliação, agora é verdade que depois tem de resolver as marcas que isso vai deixando.
Sozinho?
Claramente sozinho. Não há outra forma.
Fala aqui da sua infância, do contexto familiar, da dificuldade em lidar como ser sempre o filho de, irmão de…Em Nova Iorque encontrou- se e este livro é também o assumir da escrita…
Sim, a partida representou a necessidade de encontro com um mundo não afectado pela tradição familiar, pelo peso de um nome. Em relação ao livro, é isso mesmo. Foi precisa grande coragem para o fazer,devo dizer.Coragemou loucura, não sei bem.Há uma procura da identidade que resultou não só da partida para osEUAe agora neste deitar cá para fora.
Entrevista de Ana Filipa Baltazar - Meia Hora. Aqui
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Abecedário dos Nomes
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Sinto Muito - é um olhar humano.
"Deserto de Afectos"
Tendo coincidido em tempos de leitura quase simultâneos, estes dois registos, destes dois irmãos, não puderam deixar de me agitar as águas das emoções. Sendo homens e irmãos as suas palavras são ainda mais reveladoras. Reveladoras de um mundo masculino que se insiste em manter fechado, a cadeado, ou trancado a sete chaves. O que mais me impressionou, tratando-se de homens bem maduros, foi a visível inconformidade, até mesmo indignação e incómodo, que ainda guardam em relação a uma infância vazia de afectos. Mas, apesar de tudo, é mais estranho pensar que o mundo dos afectos ainda seja tido como um monopólio feminino. Se é assim, onde está o colo da mulher-mãe que lhes faltou? E que mulheres-amantes se cruzaram na vida destes meninos-homens para que este colo ainda permaneça por saciar?"
Vida Hi-Fi - Aqui
(excerto do Post Deserto de Afectos)
terça-feira, 4 de novembro de 2008
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
“Sinto Muito” - O livro de que se fala e bem
Vale a pena ler e é por isso a recomendação de leitura do Vida Maravilha para esta semana."
Ana Raquel Oliveira - Vida Maravilha - Aqui
Sou jornalista, na área da cultura, e adoro todas as coisas boas que a vida tem para oferecer. Mais do que um blogue dedicado à cultura, aqui quero deixar o testemunho de experiências de que vale a pena falar e partilhar.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Abecedário dos Nomes
Eu sou o Afonso.
Adoro computadores. Passo horas e horas sem fim a navegar na Internet... Querem saber mais sobre mim ?
Vou chamar a Caetana e ela diz- vos como...
Caetana?
Afonso?
Chamaste?
ahhh... queres que eu conte onde é que podem
ler-se verdadeiras histórias sem pés nem cabeça,
super divertidas?
Mas a Caetana, não conta...
a Madalena que sou eu,
gostava muito que todos lessem
as nossas histórias hilariantes e divertidas,
sobre meninos traquinas, inventores,
arquitectos ou sempre do contra e de
meninas sonhadoras, gulosas
faladoras e bailarinas...
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
5.ª Edição - SINTO MUITO
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Minuto a Minuto...
Opiniões e Sentires - I I
Recebi esta sugestão da minha amiga Cleo. Obrigada amiga e irei imitar-te e lê-lo brevemente já que me parece muito interessante". Aqui.
Ontem vi na RTP 1 uma reportagem/entrevista que me fez pensar ... na minha humanidade, ou seja em mim como ser humano e em mim como ser crente. Foi uma lição!
A entrevista foi com o médico Nuno Lobo Antunes. Que com uma imensa serenidade colocou a sua transparência como ser humano (médico, agnóstico = PESSOA). O mote da entrevista foi a apresentação do seu livro, Sinto Muito.
«Há no médico o desejo de ser santo, de ser maior. Mas na sua memória transporta, como um fardo, olhares, sons, cheiros e tudo o que o lembra de ser menor e imperfeito. Este é um livro de confissões. Uma peregrinação interior em que a bailarina torce o pé, o saltador derruba a barra, o arquitecto se senta debaixo da abóbada, e no fim, ela desaba. O médico e o seu doente são um só, face dupla da mesma moeda. O médico provoca o Criador, não lhe vai na finta, evita o engodo. Mas no cais despede-se, e pede perdão por não ter sido parceiro para tal desafio.»
Do prefácio de António Damásio". Aqui.
While I am sick and without the large loads of medical books to study, I started to read some more things not so scientific. Today I read one of the best books lately. Its is called "Sinto muito" ("I'm sorry", translated) and is from one of the best Portuguese neurologists, Nuno Lobo Antunes, specialized in pediatric neurooncology. It's about the incapacity of a doctor in this sensible area and the daily though moments in an area where the prognostics are so reserved. I simply loved the book." Aqui.
Uma peregrinação interior em que a bailarina torce o pé,
o saltador derruba a barra,
o arquitecto se senta debaixo da abóbada, e no fim, ela desaba.
O médico e o seu doente são um só, face dupla da mesma moeda.
O médico provoca o Criador, não lhe vai na finta, evita o engodo.
Mas no cais despede-se,
e pede perdão,
por não ter sido parceiro para tal desafio." Aqui.