segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Entrevista a Nuno Lobo Antunes

Este é um livro generoso e também pedagógico...
Quanto à generosidade, não sei se estou de acordo. Tinha uma necessidade real de aliviar a carga de algumas destas histórias. Como digo aí, no fim fiquei mais leve e livre. Depois a noção de, quando se lida com pessoas nestes patamares de sofrimento, reconhecer que elas são capazes de se tornar heróis e santos. Estamos numa sociedade em que já não há heróis, os que existem são figuras de ficção. Já há poucos heróis de carne e osso. As pessoas vulgares, com quem nos cruzamos nos passeios, quando em níveis de exigência difíceis, são capazes de revelar capacidades extraordinárias. Se contribui com uma gota de água no reacreditar nas pessoas, então será verdade esse sentido pedagógico.

Há uma mistura de duas coisas: uma necessidade de pôr cá fora dores armazenadas durante muito tempo e a noção de que são histórias que valem a pena serem conhecidas.

Há a ideia do médico ter mecanismos de defesa para conseguir lidar com o limite. Mas homem e médico são um só. Onde, afinal, se guarda a dor?
Cada um responderá à sua maneira. Os religiosos encontram alívio, explicação, na fé. Quem não o for, terá outras respostas. O livro foi uma resposta à minha própria dor. Transformei-a nisto. Foi uma saída. O médico tem, claramente, de manter a distância afectiva na altura das decisões, da avaliação, agora é verdade que depois tem de resolver as marcas que isso vai deixando.

Sozinho?
Claramente sozinho. Não há outra forma.


Fala aqui da sua infância, do contexto familiar, da dificuldade em lidar como ser sempre o filho de, irmão de…Em Nova Iorque encontrou- se e este livro é também o assumir da escrita…

Sim, a partida representou a necessidade de encontro com um mundo não afectado pela tradição familiar, pelo peso de um nome. Em relação ao livro, é isso mesmo. Foi precisa grande coragem para o fazer,devo dizer.Coragemou loucura, não sei bem.Há uma procura da identidade que resultou não só da partida para osEUAe agora neste deitar cá para fora.
Entrevista de Ana Filipa Baltazar - Meia Hora. Aqui

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