domingo, 11 de janeiro de 2009

O livro que “serviu para arrumar a dor”

“Sinto Muito” de Nuno Lobo Antunes no Casino Figueira


“Não faria sentido que eu morresse sem relatar aos outros as experiências que vivi. Com o relato destas histórias podia fazer com que as pessoas se sentissem melhor”, destacou Nuno Lobo Antunes durante a apresentação do seu livro “Sinto Muito”, realizada no Casino Figueira no passado dia 18 de Dezembro.
Este livro reúne várias histórias que o médico neuro-pediatra vivenciou aquando da sua estada em Nova Iorque no Columbia-Presbyterian Medical Center, um dos maiores hospitais oncológicos do mundo. O título do livro traz consigo uma ambiguidade. “Não era raro morrer alguém durante o turno da noite no hospital. Às três da manhã tinha de ligar a alguém a informar que tinha morrido um ente querido para essa pessoa”, contou o médico, salientando que do outro lado, quando atendiam o telefone dizia, “Sinto Muito. Desculpe. Mas eu partilho a sua dor”.
Neste livro é ainda feita uma descrição pormenorizada do quotidiano de um hospital, inserido numa metrópole como Nova Iorque. O autor fala “sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor”, refere António Damásio, no prefácio do livro.

Para onde vai a dor
Ser o transmissor das más notícias é uma difícil tarefa a que, diariamente, um médico está obrigado. E traz consigo algumas interrogações. “Interrogamo-nos pela razão da nossa existência. É a tentativa de uma resposta, ou o relato de respostas individuais sobre a morte”, destacou Nuno Lobo Antunes, dando, assim, a conhecer algumas das razões que o levaram a partilhar estas histórias com o público.
“Muitas vezes perguntava à Mary, a enfermeira que trabalhava comigo: «onde é que nós pomos a dor? Para onde é que ela vai?»”, confidenciou o autor. “Sinto Muito” trouxe essas respostas.
“De alguma maneira, e no meu caso, a minha dor foi para este livro. E neste momento, como digo no livro, sinto-me mais leve e mais livre”, destacou. Durante os vários anos que esteve em Nova Iorque, Nuno Lobo Antunes teve “o privilégio de conviver com crianças e adultos fantásticos”.
“Eram heróis que ninguém contava, e sentia-me na obrigação de as contar”, destacou.
“Olhar que anuncia a morte” é o título de uma das crónicas que fazem parte de “Sinto Muito”, escrita no “dia em que anunciei a uma mãe que o filho ia morrer”, contou.

Confissões/memórias
Nesta compilação de histórias, Nuno Lobo Antunes revela ser um homem de afectos e um profundo humanista. Fala, sem pudores, da dor, da perda, do amor e da cumplicidade que vai construindo com aqueles com quem se cruza no dia-a-dia. É sem reservas que o médico admite que muito do que é e do que sente está exposto neste livro.
“É um testemunho muito sentido e genuíno e que me continua a tocar sempre que o leio. São histórias da vida real, que relato de coração aberto e que falam do melhor que a Humanidade tem para oferecer, a coragem e o amor. Neste livro há um Nuno completo, o médico, o marido, o pai... Aliás, este livro é dedicado à minha mulher e tem referências expressas às minhas filhas”, referiu.
“Sinto Muito” é um livro de confissões/memórias de um neuro oncologista pediátrico e hoje neurologista sobre doenças de deficit de atenção. Uma reflexão sentida sobre aquilo porque muitas pessoas têm que passar ao longo da vida ou já no fim dela. Aqui
Raquel Vieira - O Figueirense

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